2014/08/25

Leituras [83] - Madrugada Suja, de Miguel Sousa Tavares

A "Madrugada Suja" é um interessante romance sobre o Portugal moderno, das teias de influências dos políticos e dos empresários (ou daqueles que são ambos em simultâneo) e que povoam as câmaras municipais deste país - mas também os governos da Nação.

Se a história romanceada não aconteceu (o que não tenho a certeza...) poderia muito bem ter acontecido. Todos nós já lemos nos jornais e ouvimos nos telejornais muitas histórias assim (que, lamentavelmente, acabaram arquivadas...) e não têm nada de novo.

Apenas por dar um nome a jovem arquitecto paisagista e contornos políticos à história, MST criou um romance que nos mostra que poderia ser qualquer outro arquitecto a viver essa personagem e história.

Vale bem a leitura, leve e fácil, e actual. Muito actual.

Sinopse
No princípio, há uma madrugada suja: uma noite de álcool de estudantes que acaba num pesadelo que vai perseguir os seus protagonistas durante anos. Depois, há uma aldeia do interior alentejano que se vai despovoando aos poucos, até restar apenas um avô e um neto. Filipe, o neto, parte para o mundo sem esquecer a sua aldeia e tudo o que lá aprendeu. As circunstâncias do seu trabalho levam-no a tropeçar num caso de corrupção política, que vai da base até ao topo. Ele enreda-se na trama, ao mesmo tempo que esta se confunde com o seu passado esquecido. Intercaladamente, e através de várias vozes narrativas, seguimos o destino dessa aldeia e em simultâneo o dos protagonistas daquela madrugada suja e daquela intriga política. Até que o final do dia e o raio verde venham pôr em ordem o caos aparente.
Excerto
“E agora, de volta à minha aldeia, onde a luz eléctrica chegara tarde demais para os homens, madrugada dentro, eu lia o Guerra e Paz. Numa aldeia morta, numa noite deserta, seguia, como se estivesse a ver, o esplendor dos salões de baile do Império Russo, a imensidão das estepes gélidas, os gritos de horror dos estropiados pelo fogo dos canhões de Napoleão Bonaparte, e chegava-me mais ao calor da lareira para não sentir a solidão das trincheiras de lama, húmidas, frias, desoladas, onde se abrigava o exército de Kutúsov. Alguém dissera um dia que se podia viver sem tudo, menos água e comida, mas que viver sem livros e sem música não seria o mesmo que viver.”


2014/08/19

Dia Mundial da Fotografia

Hoje é o seu dia mundial. Não concordo lá muito com isto dos "dias mundiais" porque acho que esses dias devem ser celebrados... todos os dias.

Mas enfim, fica aqui uma ideia apenas sobre as fotos.

Dos mil e um temas que há para serem fotografados, fica um link para um dos meus favoritos: a fotografia de arquitectura. Para vosso deleite, algumas fotos fabulosas, maioritariamente de fotógrafos tão anónimos como eu ou até o leitor.

Fotografe. Basta ter olho... e máquina fotográfica!

@2014, Nuno Silva Leal

2014/08/06

Leituras [82] - O Vendedor de Passados, de José Eduardo Agualusa

Neste "O Vendedor de Passados" a mestria de JEA em contar-nos histórias simples, poéticas e fora do comum é exacerbada! Quem mais senão JEA para se lembrar de pôr uma lagartixa a narrar a história e ser personagem de uma história que, se não aconteceu, podia ter acontecido?

Uma história sobre mentiras e verdades. Sobre homens. Ou Homens. E sobre a realidade angolana, novamente. Que ele descreve de uma forma apaixonada denunciando o que vai menos bem - aliás, como ele só Pepetela tem este dom de transformar os "pecados" da sociedade moderna em fantásticas histórias que os livros nos contam.

Livro curto, que se lê num sopro, é uma boa opção para estas férias (para aqueles que ainda não as tiveram) - de resto, como são todos os outros livros de JEA que li (e já não são poucos) e que merecem a leitura. JEA, que é hoje um dos nomes maiores da literatura em língua portuguesa - e, porque não, um futuro Nobel da literatura um destes anos? É que já merece!

Sinopse:

"Félix Ventura. Assegure aos seus filhos um passado melhor". É a partir deste cartão-de-visita que se desenrolam os capítulos de "O Vendedor de Passados", novo romance de José Eduardo Agualusa. A mentira e a verdade, o(s) homem(s) e o(s) seu(s) duplo(s), a memória e a memória da memória, a ficção e a realidade. Angola ("é importante ironizar com a sociedade angolana, que é uma sociedade que se construiu e se continua a construir assente em muitas ficções" - o autor ao Público, 19/06/04). Tudo poderia acontecer. Tudo poderia ter acontecido. (Susana Moreira Marques, Público, Mil Folhas: "A determinada altura a osga recorda a mãe num momento da sua vida passada: 'Nos livros está tudo o que existe, muitas vezes em cores mais autênticas, e sem a dor verídica de tudo o que realmente existe. Entre a vida e os livros, meu filho, escolhe os livros'(p. 122). José Eduardo Agualusa provavelmente escolhe a vida.") Isto é: os livros?